A reforma estatutária
Continuamos na torcida, felizes pela nossa subida para a primeira divisão e pelo título conquistado. Claro que queremos ver o time jogar bem. Nossa tradição histórica perdida de ter grandes times tem que ser perseguida obstinadamente. Mas por agora, seria forçar a barra cobrar mais do que subir. Ainda mais tendo o título de Campeão Brasileiro da Série B como bônus.
Isso deveria bastar para nós torcedores tão sofridos. Mas permita-nos dirigir-nos a aqueles que destinam, assim com nós, algum tempo no meio de nossas emoções de meros torcedores, a refletir com mais cuidado sobre o cenário do nosso clube.
Não queremos falar de um dos assuntos do momento: qual será o nosso time em 2016? Queremos falar especificamente sobre a reforma estatutária e seus impactos em nosso futuro. Vemos sua condução, como exemplo de um modus operandis que não nos agrada no politizado Botafogo dos nossos dias.
Claro que nos dirigimos a aqueles, que tem um olhar mais atento sobre a esforçada atual administração. E mais do que isso, a aqueles que coadunam com nossa visão, a de que devemos construir já, principalmente por via do novo Estatuto, um clube moderno e preparado para o grande desafio de voltar ao cenário do futebol de verdade. E não é isso que vemos nos relatos sobre a reforma estatutária em andamento.
A começar pela confessada politização do grupo de trabalho que realiza a proposta de reforma (leia a matéria anexa). A reforma do estatuto do Botafogo de Futebol de Regatas está sendo realizada pelo grupo político que está no poder no Botafogo: o Mais Botafogo. Uma pena. Todos os outros Botafoguenses que quiserem ser ouvidos, tem que se organizar e enviar propostas para o clube, sem nenhum estímulo formal a participação, sem rotinas, sem portas abertas e nem garantias de participação em debates e deliberações.
Nós poderíamos dar-nos por satisfeitos. O Grande Salto protocolou no clube um documento com 14 propostas e tivemos até algumas teses sendo consideradas, se for verdade o que lemos na imprensa, relativo a proposta preliminar de reforma em andamento. Mas pelo que vimos na matéria e nas manifestações do grupo do poder, o principal lamentavelmente ficará de fora.
O primeiro mundo do futebol já descobriu que o modelo de voluntários não remunerados está definitivamente ultrapassado, mas a atual gestão do Botafogo não concorda com isso. E pior, irá perpetuá-lo, ao que parece, ignorando suas premissas no novo estatuto. Se depender da disposição de quem está construindo o novo estatuto, vamos seguir sendo um clube tocado por voluntários, com dedicação parcial, sem metas corporativas, nem rigor organizacional .
Recentemente em um artigo escrito por Ferran Soriano, atual Ceo do Manchester City e ex Vice-Presidente Geral do Barcelona, fala da necessidade imperativa de uma administração profissional, comprometida com os parâmetros empresariais e com a dedicação exclusiva, referenciando inclusive a crescente defasagem latino americana ao modelo ultrapassado de gestão de boa parte dos nossos clubes.
Além do fato de não vermos disposição de abordar esses temas, vemos no âmago do grupo político que comanda o clube, a crença no ultrapassado modelo que privilegia os entes voluntários. Está no DNA. Na votação de reforma estatutária parcial dessa semana, abordou-se a adaptação ao PROFUT e a elevação da idade da dependência para 24 anos e nada mais.
Mudanças insuficientes à vista. E mais: pelos prazos anunciados na matéria, nada valerá para a próxima eleição. Na medida em que os responsáveis pelas reformas, voluntários, presos a ritos limitadores e a visões questionadíssimas, não darão sentido de urgência a reforma, que sairá lamentavelmente ao feitio exclusivo do que pensa o (Mais) Botafogo de hoje e na contramão do que praticam os clubes vencedores pelo mundo afora.
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